Carlos Drummond de Andrade
nesta curva barroca nos perdemos.
O caprichoso esquema
unia formas vivas, entre ramas.
Lembras-te carne? Um arrepio telepático
vibrou nos bens municipais, e dando volta
ao melhor de nós mesmos,
deixou-nos sós, a esmo,
espetacularmente sós e desarmados,
que a nos amarmos tanto eis-nos morridos.
E mortos, e proscritos
de toda comunhão no século (esta espira
e testemunha, e conta), que restava
das línguas infinitas
que falávamos ou surdas se lambiam
no céu da boca sempre azul e oco?
Que restava de nós,
neste jardim ou nos arquivos, que restava
de nós, mas que restava, que restava?
Ai, nada mais restara,
que tudo mais, na alva,
se perdia, e contagiando o canto aos passarinhos,
vinha até nós, podrido e trêmulo, anunciando
que amor fizera um novo testamento,
e suas prendas jaziam sem herdeiros
num pátio branco e áureo de laranjas.
Aqui se esgota o orvalho,
e de lembrar nã há lembrança. Entrelaçados,
insistíamos em ser; mas nosso espectro,
submarino, à flor do tempo ia apontando,
e já noturnos, rotos, desossados,
nosso abraço doía
para além da matéria esparsa em números.
Asa que ofereceste o pouso raro
e dançarino e rotativo, cálculo,
rosa grimpante e fina
que à terra nos prendias e furtavas,
enquanto a reta insigne
da torre ia lavrando
no campo desfolhado outras quimeras:
sem ti não somos mais o que antes éramos.
E se este lugar de exílio hoje passeia
faminta imaginação atada aos corvos
de sua própria ceva,
escada, ó assunção,
ao céu alças em vão o alvo pescoço,
que outros peitos em ti se beijariam
sem sombra, e fugitivos,
mas nosso beijo e baba se incorporam
de há muito ao teu cimento, num lamento.
2 comentários:
Disse um poeta
Essa tal de liberdade
Deu vontade de experimentar? Não tenha medo. Descole uma moto e caia na estrada também, quem sabe o que você precisa não é um pouco do vírus da liberdade...
Eu preciso. bj
me responda, se um pássaro e um peixe se apaixonassem, como seria
em que mundo se encontrariam , compartilhariam de todos os seus desejos contidos dos mais sutis aos mais densos.
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